No coração da mitologia guarani, envolta no brilho suave da noite e no canto distante dos rios, surge a figura serena e poderosa de Yacy, a deusa da lua. Máe, protetora, guia e inspiradora, Yacy ocupa um lugar de destaque na cosmologia dos povos guaranis, representando não apenas a luz na escuridão, mas também a esperança, a fertilidade e a proteção.
“Quando a escuridão cobre a terra, Yacy vigia nossos sonhos com seus olhos de prata”, ensinavam os pajés sob o luar.
Quem é Yacy
Yacy é a personificação da lua na mitologia guarani. Irmã de Kuarasy (o Sol) e filha de Tupã, ela simboliza a proteção noturna e a fertilidade da terra.
Com seu brilho delicado, Yacy ilumina as noites e guia os caçadores, protege as crianças adormecidas e inspira poetas e sonhadores.
Curiosidade: A palavra “Yacy” significa “lua” em guarani.
A origem de Yacy
Segundo a tradição, Yacy nasceu do sopro criador de Tupã, junto com os primeiros elementos do universo.
Enquanto seu irmão Kuarasy brilhou com força para reger o dia, Yacy recebeu a missão de governar a noite, trazendo serenidade e mistério ao mundo.
Reflexão: No equilíbrio entre dia e noite, luz e sombra, os guaranis encontravam a harmonia da existência.
Yacy e a proteção da natureza
Yacy não era apenas a deusa da luz noturna, mas também uma poderosa protetora da natureza:
- Guardiã das florestas: Acreditava-se que ela velava pelo crescimento das plantas e pela saúde das florestas.
- Protetora dos animais: Em especial, dos animais noturnos como corujas e jaguatiricas.
- Defensora das águas: As lâminas prateadas nos rios sob a luz da lua eram vistas como seu toque de bênção.
Citação guarani: “Onde a mata sussurra, lá está Yacy, velando com olhos brilhantes.”
Os ciclos da lua e a fertilidade
O ciclo da lua era sagrado para os guaranis e associado diretamente à fertilidade:
- Crescimento da lua: Simbolizava a gestação e o crescimento das plantas e dos bebês.
- Lua cheia: Era considerada o momento de maior poder de Yacy, favorável para cerimônias de colheita e nascimento.
- Minguante: Representava o descanso e a introspecção.
Curiosidade: As mulheres guaranis acreditavam que seus ciclos menstruais eram guiados pelas fases da lua.
O culto a Yacy
Em noites de lua cheia, tribos guaranis realizavam rituais para homenagear Yacy:
- Cânticos suaves eram entoados para agradecer sua proteção.
- Danzas circulares representavam o movimento dos astros.
- Oferendas de flores e frutas eram deixadas em clareiras iluminadas pela lua.
Esses rituais reforçavam a conexão espiritual entre o povo e a natureza.
Reflexão: Celebrar Yacy era celebrar o milagre da vida em sua forma mais pura.
Yacy e os sonhos
A deusa da lua também era vista como a guardiã dos sonhos:
- Protegia os sonhadores durante a noite.
- Enviava mensagens através de sonhos simbólicos.
- Inspirava os pajés a interpretar sinais para orientar suas comunidades.
Sonhar sob o olhar de Yacy era considerado um privilégio, uma oportunidade de ouvir a voz da natureza.
Curiosidade: Muitos pajés guaranis realizavam vigílias noturnas sob a luz da lua para receber visões e orientações.
Comparativos com outras culturas
A deusa Yacy encontra paralelos em outras tradições:
- Selene (Grécia antiga): Deusa da lua, guiava sua carruagem prateada pelo céu.
- Ix Chel (Maya): Deusa da lua e da fertilidade.
- Chandra (Hinduísmo): Divindade lunar associada à beleza e à emoção.
Essas semelhanças revelam a importância universal da lua como símbolo de proteção, fertilidade e mistério.
Reflexão: Em todas as culturas, a lua é vista como um elo entre o humano e o divino.
A relação de Yacy com Kuarasy
Yacy e Kuarasy, lua e sol, não eram opostos, mas complementares:
- Kuarasy trazia a energia, o calor e a força vital.
- Yacy oferecia descanso, renovação e sabedoria interior.
Esse equilíbrio era fundamental para a harmonia da natureza e da sociedade guarani.
Citação guarani: “Sem o dia, não há trabalho; sem a noite, não há sonho.”
Lendas relacionadas a Yacy
Diversas lendas guaranis falam da atuação de Yacy:
- O resgate das flores roubadas: Yacy teria descido à terra para recuperar as flores roubadas por espíritos malignos.
- A proteção das crianças: Em noites escuras, Yacy transformava sua luz em escudos para proteger os pequenos viajantes.
- O ensinamento dos ciclos: Através da mudança de suas fases, Yacy ensinava aos humanos sobre o tempo e a paciência.
Curiosidade: Em algumas regiões, Yacy é chamada carinhosamente de “Mãe da Noite”.
O papel da lua no cotidiano guarani
A presença da lua influenciava várias atividades diárias:
- Caça e pesca: Atividades planejadas conforme a luminosidade lunar.
- Plantio: A lua crescente era ideal para plantar e a minguante para colher.
- Rituais de cura: Realizados preferencialmente durante a lua cheia.
Essa observação cuidadosa reforçava a dependência da natureza para a sobrevivência.
Reflexão: Seguir os ciclos da lua era viver em sintonia com o universo.
A representação de Yacy
Yacy é frequentemente representada como:
- Uma mulher jovem de pele brilhante e cabelos prateados.
- Portando uma flor ou uma espiral, símbolos de renovação e continuidade.
- Cercada por animais noturnos, como corujas e morcegos.
Sua imagem transmite serenidade, proteção e mistério.
Curiosidade: Em algumas aldeias, imagens de Yacy são pintadas nas paredes das ocas para trazer proteção durante a noite.
Lições de Yacy para o mundo moderno
A história de Yacy nos ensina que:
- O poder pode ser suave e silencioso.
- O cuidado com a natureza é um dever sagrado.
- O descanso e o sonho são essenciais para a sabedoria.
- O equilíbrio é a chave da harmonia.
Citação guarani: “No brilho de Yacy, cada ser encontra seu caminho.”
Conclusão
Yacy, a deusa da lua, continua a brilhar na mitologia guarani como um farol de ternura, proteção e sabedoria.
Em tempos de pressa e desconexão, sua história nos lembra da importância de desacelerar, contemplar os ciclos da natureza e reconhecer a beleza do que é silencioso e sutil.
Assim como os guaranis, podemos encontrar em Yacy uma guia serena para navegar nossas noites interiores, confiando que mesmo na escuridão, existe luz, direção e esperança.
Sob seu olhar prateado, somos convidados a recordar que o universo canta em silêncios, brilha em sombras e floresce em nossos sonhos mais profundos.